Décadas atrás, atores passavam horas em estúdios de maquiagem aplicando próteses, lentes de contato ou perucas para mudar sua aparência em um papel. Mas quando a tecnologia entra em cena com o deepfake, a capacidade de transformar traços físicos ganhou outra dimensão.
Um bom exemplo foi o rejuvenescimento do ator Harrison Ford ao interpretar novamente o arqueólogo Indiana Jones. Em Indiana Jones e a Relíquia do Destino, a equipe de efeitos especiais conseguiu rejuvenescer os traços do professor em mais de 20 anos!
E essa tecnologia do deepfake é o assunto que vamos abordar no artigo abaixo. Você vai aprender o que é deepfake, como essa tecnologia funciona e como está sendo usada.
O Que É o Deepfake
O deepfake é um desdobramento tecnológico da produção audiovisual, capaz de produzir ou editar imagens e vídeos a partir de outros materiais.
Este aprendizado é um recurso da Inteligência Artificial (IA), onde a máquina é capaz de processar e analisar dados em várias instâncias e depois reproduzir algo que seja parecido. A palavra deepfake é um termo composto por duas expressões em inglês: deep learning e fake.
Deep learning, traduzido para o português, seria algo como “aprendizado profundo”. Fake, em uma tradução literal para o português, é “falso”, indicando que o aprendizado profundo tem como objetivo produzir algo falso. Então, quando você assiste um vídeo que foi gerado inteiramente pela máquina, mas que parece real, isso é um deepfake.
Um exemplo famoso do uso de deepfake foi o ator, comediante e diretor de cinema Jordan Peele. Com este recurso, e aplicação da IA generativa, ele foi capaz de produzir uma paródia do ex-presidente norte americano, Barack Obama. O objetivo era justamente alertar para a capacidade que a tecnologia tem de nos enganar.
Como Funciona o Deepfake
Para fazer um deepfake, é preciso seguir alguns passos.
O primeiro passo é oferecer para a IA os dados que deve processar e analisar. Um dos casos mais famosos de deepfake no Brasil envolve uma propaganda impressionante com a imagem da cantora Elis Regina.
Para criar o vídeo com a artista, foi necessário alimentar a máquina com fotos, vídeos e gravações existentes dela. Assim, a IA possuía um vasto material para analisar padrões faciais, expressões e outros trejeitos para reproduzir o comportamento de Elis.
Portanto, quanto mais arquivos estiverem disponíveis para o deep learning, mais realista e convincente será o resultado final.
Em seguida, com o processamento concluído, o usuário faz o direcionamento do que deve ser criado: gestos, falas, ações… É só escolher e fazer os ajustes finos à medida que a IA produz a imagem ou vídeo.
Veja a propaganda com a imagem da cantora Elis Regina!
Outro caso de uso recente é a última música dos The Beatles, intitulada “Now and Then”, que foi lançada em novembro de 2030 com a ajuda IA. Originalmente composta por John Lennon nos anos 70 e posteriormente arranjada por Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr nos anos 90, a música não foi lançada devido à limitação tecnológica da época em separar a voz de Lennon dos ruídos da gravação.
Agora, com o auxílio da WingNut Films e sua tecnologia de IA, a performance original de Lennon foi resgatada, possibilitando o lançamento da faixa. Veja o resultado dessa incrível produção!
Casos de Uso Positivo do Deepfake
Embora o termo “deepfake” geralmente tenha uma conotação negativa devido ao seu uso em manipulação de mídia para propósitos enganosos, existem casos em que a tecnologia pode ter aplicações positivas. Separamos abaixo alguns exemplos.
Aprimoramento de Vídeo e Áudio
- Deepfakes podem ser usados para melhorar a qualidade de vídeos antigos, removendo ruídos ou aprimorando a resolução, resultando em uma experiência visual ou auditiva melhorada.
Entretenimento e Indústria Cinematográfica
- Recriação de Personagens: deepfakes podem ser usados para recriar personagens icônicos em filmes ou séries, especialmente quando os atores originais não estão mais disponíveis;
- Dublagem: pode ser utilizado para melhorar a sincronização labial em filmes e programas de televisão quando traduzidos para diferentes idiomas.
Educação e História
- Recriação Histórica: deepfakes podem ser utilizados para recriar eventos históricos ou para trazer à vida figuras históricas em ambientes de aprendizado, tornando a história mais envolvente e acessível.
Acessibilidade em Mídias
- Deepfakes podem ser empregados para adaptar conteúdo audiovisual para pessoas com deficiências, como sincronizar movimentos labiais em vídeos educacionais para facilitar a leitura labial.
Mídia Paga em Marketing
- Personalização de Conteúdo: Empresas podem usar deepfakes de maneira ética para personalizar anúncios e conteúdo de marketing, tornando-os mais relevantes para públicos específicos.
Simulações de Treinamento para Profissionais
- Em setores como saúde, segurança e serviços de emergência, deepfakes podem ser usados para criar simulações realistas que ajudam a treinar profissionais em situações desafiadoras sem expor indivíduos reais a riscos.
Arte Digital e Expressão Criativa
- Artistas podem usar deepfakes como uma ferramenta de expressão criativa, explorando novas formas de arte digital e narração visual.
Nos últimos tempos, diversas plataformas surgiram, incorporando tecnologias de deepfake para aprimorar a qualidade de reprodução de áudio e vídeo. Essa tendência reflete uma busca constante por inovação e melhoria na experiência do usuário.
Para o aprimoramento de resolução, notáveis ferramentas de vídeo, como D-ID, HeyGen, Synthesia e Colossyan, têm ganhado destaque. Essas plataformas exploram técnicas de deepfake para proporcionar uma reprodução visual mais nítida e envolvente.
No campo do áudio, a ferramenta ElevenLabs destaca-se por sua capacidade de reduzir ruídos, otimizar a qualidade sonora e implementar outras melhorias. Essa abordagem para aprimorar a qualidade auditiva demonstra a diversidade de aplicações das tecnologias relacionadas a deepfake.
Casos de Uso Negativo do Deepfake
A tecnologia do deepfake é usada para acelerar a produção de conteúdo, mas também pode ser usada de maneira criminosa por pessoas mal intencionadas. Então vamos explicar alguns usos recorrentes do deepfake atualmente.
Deepfake no Cinema
A extensão do uso de computação gráfica em filmes de grande orçamento, transformou a forma como os efeitos especiais são feitos. Agora, os computadores podem rejuvenescer, envelhecer ou mesmo inserir um ator, ou atriz, em produções.
Essa novidade, por mais interessante que seja, revoltou atores e atrizes.
Durante alguns meses de 2023, o sindicato responsável pela categoria, o Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists is an American (SAG-AFTRA), convocou uma greve geral. Uma das demandas era a regulamentação do uso de imagem dos profissionais pela inteligência artificial.
Fake Também nas News
Este ponto é preocupante. Pessoas mal intencionadas usam o deepfake para criar e divulgar informações falsas na internet.
Nancy Pelosi, congressista norte-americana, foi alvo de uma dessas notícias falsas. Através do deepfake foi possível alterar sua voz e aparência em um vídeo, passando a impressão que ela estava bêbada. A repercussão contou com inúmeros compartilhamentos, mas era uma mentira.
Além de figuras do poder legislativo, a imagem do Papa Francisco também foi usada em um deepfake. A foto do pontífice usando uma jaqueta bomber moderna inundou as redes sociais com elogios ao novo estilo de se vestir do clérigo. Entretanto, a imagem foi gerada por IA.
Deepfake e o Conteúdo Pornográfico
Atualmente, o uso do deepfake para a produção de conteúdos pornográficos se tornou um problema sério.
A partir de fotos e vídeos publicados por mulheres em suas redes sociais, criminosos são capazes de produzir conteúdos sexuais falsos. Os deepfakes são usados como forma de:
- Vingança contra ex-companheiras que terminaram os relacionamentos;
- Humilhar mulheres em posições proeminentes na sociedade;
- Forma de extorquir mulheres para obter dinheiro.
A repórter Rana Ayyub, da Índia, foi alvo deste tipo de crime. Vídeos que colocam a jornalista em situações degradantes foram usados como forma de intimidação. Tudo isso porque Rana denunciou o estupro e assassinato de uma menina de 8 anos.
Como Identificar um Deepfake
Tão importante quanto saber que os deepfakes existem, é saber como separar o que é verdadeiro e o que é falso. Como a tecnologia ainda está em desenvolvimento, os erros ficam mais aparentes e entregam a fraude.
Aqui vão algumas dicas de como você pode determinar se um conteúdo é ou não real.
Problemas na Imagem
A luz do ambiente pode variar, em um momento bem iluminado, eu outro uma penumbra. Ao perceber uma mudança brusca na forma como a luz está iluminando o vídeo, desconfie.
Outro problema que evidencia a falsidade do conteúdo é o ajuste de cores. A cor da pele, do cabelo ou objetos pode variar de um segundo para o outro. Isso é um sinal claro de deepfake.
Comportamento Errático
O deepfake ainda é incapaz de copiar com exatidão o comportamento humano, consequentemente, algumas ações não são emuladas da maneira correta.
Nos vídeos, é comum ver a pessoa manter os olhos abertos o tempo todo, sem piscar. Outro comportamento que evidencia o conteúdo falso é que a pessoa não move a cabeça, nariz ou mãos, apenas os lábios. Esta pose em “estátua”, é um indicativo do deepfake.
Sincronia de Vídeo e Áudio
Se a pessoa está falando e o som parece estar “atrasado”, atenção! A falta de sincronia entre o vídeo e o áudio é um dos pontos que pode incomodar quem assiste e demonstra que aquele conteúdo pode ser um deepfake.
Conclusão
Agora você sabe o que é o deepfake!
Esta tecnologia, embora muito promissora para a indústria audiovisual, também abre o leque de possibilidades para crimes digitais. Assim, todo cuidado é pouco para usar, publicar ou compartilhar conteúdos que usem o deepfake como recurso.
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